Mobilização Divina
Grandes mobilizações sociais estão
fazendo parte da história do nosso país nesses dias em que o país da bola se
volta para o esporte que lhe é mais popular, o futebol. Segundo declarou um
narrador bem conhecido: “O Brasil é a pátria de chuteiras”. Se ele estiver
certo precisamos concordar que somente somos patriotas ou cidadãos de verdade
quando a bola rola e as ruas se enfeitam de verde e amarelo. Mas, como acredito
que ele está errado, concluímos então, que o povo brasileiro não é patriota somente
em tempos de “copa”, na verdade o povo brasileiro nunca deixou de ser patriota,
nunca deixou de amar a pátria e reverenciar sua bandeira. Todos amam o Brasil,
e isto está demonstrado em várias mobilizações em várias partes do mundo. É
verdade que não somos patriotas tão acima da média como em outros países, mas
em contrapartida somos um povo único e incomum em nossa alegria e em nossa
criatividade. Nossas festas são verdadeiramente democráticas e ordeiras, nossas
reivindicações são sinceras. Não mascaramos o estado de nossa nação só “para
inglês ver”. Queremos um Brasil limpo e sem corrupção moral, uma justiça que
alcance a todos, uma divisão igualitária de direitos e deveres, uma divisão
correta da renda per capita, uma sincera e constante política pública para os
pobres e menos favorecidos. Exigimos que mesmo que o salário seja “mínimo”,
honre a constituição federal e nos sustente em todas as necessidades básicas.
Com isso, estamos dizendo que não queremos simplesmente ser o país do futebol e
da copa, não queremos ser somente o país do futebol, muito menos ser classificados
como a oitava economia do mundo. Queremos e podemos ser mais do que isso.
Queremos sim poder cantar o nosso
hino com grande ardor no peito e dizer em grandes gritos: “Paz no futuro e
glória no passado”. Portanto, para que isso aconteça precisamos ser ativos
provocadores de mudanças em diversos setores de nossa sociedade para que
sejamos um país campeão, e não um país campeão da bola. Precisamos acabar com
os desvios de verbas públicas destinadas a saúde, equacionar os problemas de
mobilidade urbana com mais investimentos em transporte de massa. Tratar a
educação do país com dignidade, honrando os professores e zelando por uma
escola pública com ensino de qualidade equiparado as melhores escolas
particulares do país. Reivindicar e participar do complexo processo de reforma
política e fiscal no qual vários setores da sociedade civil anseia. Cobrar dos
grandes líderes governamentais uma transparência maior dos gastos públicos,
principalmente no que se refere aos seus próprios salários nababescos e bem
acima da inflação como não acontece com o salário mínimo.
Talvez você nem perceba, mas tudo isso que está acontecendo em nosso
lindo país faz parte de uma mobilização divina. Mobilização porque são os
cidadãos que se levantam para se fazer representar já que sabem que aqueles que
lá estão não os representam na medida em que merecem. Divina porque o Deus da
Bíblia além de ser santíssimo, é justo e abomina o mau e a injustiça em todas
as suas formas. Sua ética social se faz presente quando baseado no amor ordenou
a todos: “amem a mim acima de todas as coisas, mas amem o próximo como a vocês
mesmo”. Com isso, encontramos mais um predicado do Eterno, único e soberano,
que se mostra não ser egoísta em seus propósitos eternos de serviço e salvação.
O Deus da Bíblia não pensa em si e sim em todos.
Como Igreja devemos discernir os tempo e as épocas, e isto significa
que no exercício pleno de nossa fé e cidadania devemos nos posicionar como o
nosso Deus se revela e se mostra em sua Palavra. Abominando toda forma de mau, pleiteando
a justiça, sendo a favor dos menos favorecidos, dando voz aos que não tem voz,
futuro e esperança, e se fazendo próximo daqueles que nem mesmo conhecemos.
A arte de bem governar e administrar com competência são exigências
constantes de Deus. Basta lermos como exemplo, o livro do profeta Isaías.
Isaías é corretamente denominado pelos estudiosos de “profeta da justiça
social”. Sua reivindicação pela justiça social como resultado de uma política
responsável e consciente era a reivindicação do próprio Deus que o enviara a
profetizar.
“Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos
meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei á justiça,
repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das
viúvas”. (Is 1.16-17).
Sabemos quais são os efeitos de
uma crise sócio-econômica: desemprego, juros altos, carga tributária elevada,
aumento nas tarifas públicas, falência de organizações, estagnação econômica, violência,
pessimismo. A causa das crises sócio-econômicas a nível mundial está numa
política defeituosa e incapaz. E qual seria, por sinal, a causa deste defeito?
É simples: a maioria dos líderes políticos estão querendo dirigir o mundo sem
Deus e sem a Bíblia. Acredite, o maior e melhor programa de governo de todos os
tempos é a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. É verdade que num mundo de pecado
em que vivemos é impossível como cristãos reivindicarmos um governo eminentemente
teocrático, contudo, quando os princípios bíblicos regem a conduta e a moral
dos dirigentes, Deus abençoa a nação.
“Feliz a nação cujo Deus é o SENHOR, e o povo que ele escolheu para sua
herança”. (Sl 33.12)
A igreja evangélica brasileira
não pode mais continuar vivendo um Evangelho distanciado da realidade política
e social que a cerca. Precisamos procurar praticar uma religião mais
identificada com os anseios e angústias da sociedade, uma religião sensível ao
clamor do oprimido e que confronte os opressores. Devemos buscar viver um
Evangelho fortemente comprometido com a justiça social, que não se coadune com
os valores de uma sociedade secularizada, e que denuncie toda impunidade,
corrupção e toda forma de pecado que não o honre como Deus. Nosso Evangelho
precisa sair das páginas da Bíblia e andar por entre as ruas, becos e vielas
deste país. Nosso culto precisa ser um equilíbrio entre vida de culto e culto da
vida.
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10)
Cultivando um autêntico
compromisso com a mobilização divina, encarnando a ética e a moral cristãs e
sendo efetivamente participativos cidadãos do Reino e do Brasil, pela graça de
Deus e o exercício fiel de nossa fé poderemos transformar a crise em esperança.
Bendito seja o Evangelho!
Pr. Flavio Muniz