segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Dar o quê, se tudo recebi?

“Que darei ao SENHOR por todos os seus benefícios para comigo? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do SENHOR. Cumprirei os meus votos ao SENHOR, na presença de todo o seu povo”. (Sl 116.12-14)

Sabemos que o livro dos Salmos é uma coletânea de cânticos de louvor escritos por vários autores durante um longo período de tempo da história de Israel. Davi é o indivíduo mais citado, e quase todo livro dos Salmos é geralmente associado a ele. Segundo a Bíblia (2Sm 23.1), Davi é o mavioso (agradável, suave, doce, tenro) salmista de Israel. Existem vários tipos de salmos, e os que se encontram entre os salmos 113 e o 118 são classificados como salmos de Aleluia, ou seja, eram salmos de louvor para serem cantados nas principais festas judaicas e nos dias santos. Os salmos 113-114 eram cantados antes da refeição de páscoa, enquanto que os salmos 115-118 faziam parte do louvor que se seguia a refeição. O salmo 116 também é classificado como salmo de ações de graças. Jesus possivelmente cantou um desses salmos quando depois da última ceia foram caminhando para o monte das oliveiras (Mt 26.30).

Amados irmãos, é muito difícil responder o que o salmista pergunta a si próprio se olharmos indeterminadamente para esta pergunta colocada no salmo 116.12 – Agora se pudermos adentrar na mente do salmista, na história de Israel, e principalmente na resposta que ele próprio dá a sua pergunta, vamos poder compreender que tudo o que o salmista quer é nos fazer entender que não há nada que possamos dar a Deus para lhe retribuir os seus benefícios. Mas, ocorre ao salmista que algo nós podemos fazer para receber de bom grado os seus ricos favores, e que isto envolve: comunhão com Deus, salvação, ações de graças e compromisso de vida.

Vivemos num tempo muito complicado onde as pessoas estão querendo se relacionar com Deus por aquilo que ele tem a oferecer, por aquilo que ele pode fazer, e não por aquilo que ele é. Por isso muitas vezes vemos que a igreja está cheia, mas de pessoas vazias. Pessoas que possuem uma fé de esfera limitada, pois reduzem Deus ao mero posto de doador, e por isso sempre estão pedindo algo a Deus, exigindo milagres, declarando vitórias e tomando posse daquilo que julgam ter direito.  Olhe pra igreja! Veja! Está sempre lotada em dias de campanhas. Parece-me que o Evangelho foi resumido a uma busca desenfreada por bênçãos, prosperidade e vitória.

Porém na contramão disso tudo, o salmista pergunta: QUE DAREI EU AO SENHOR?, em outras palavras: O QUE O SENHOR ESPERA DE MIM? O QUE O SENHOR ESPERA DE NÓS? O que nós podemos dá-lo pelos benefícios que ele tem nos concedido em nossas vidas? O que está na mente e no coração do salmista é totalmente diferente de hoje, ele não pergunta: O QUE DEUS PODE ME DAR PELO EXERCÍCIO DA MINHA FÉ? Não. Ele inverte isso, ele diz consigo: O que posso dar a Deus por todos os benefícios que me tem concedido?

Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. (Jo 1.16).

Irmãos, será que não temos olhos espirituais para enxergar que são inúmeros os benefícios que todo ser humano recebe diariamente da parte de Deus, desde o ar que respiramos, passando pelo sol que nos aquece e pelo frio que nos acolhe e indo até a roupa que vestimos e a comida que comemos. E se formos falar pelo prisma espiritual os benefícios são quem sabe ainda maiores. Fomos alcançados pela pregação do Evangelho e salvos pelo poder de Deus, fomos envolvidos pela graça, adotados na família de Deus, possuímos a alegria da salvação, o consolo do Espírito Santo, a orientação da Palavra de Deus, suas ricas misericórdias se renovam todos os dias sobre nós, estamos debaixo de promessas infinitas que jamais caducarão; isso sem contar com as infinitas bênçãos da parte de Deus que nos alcançam dia após dia. Será que isso não é o bastante pra muita gente? Me parece que não. Quanto mais Deus dá, mais o homem quer! Isso não seria errado se o homem quisesse mais de Deus vivendo contentado com o que já tem. Irmãos nós precisamos aprender muito sobre gratidão e contentamento com Davi, Paulo e com os salmos.

Porque existe tanta gente insatisfeita com Deus? Resposta: Por que não se contentam com o que Deus dá, e não se realizam com o que Deus faz, e não se agradam do que Deus pede, por isso acabam por viver uma vida de frustração, insatisfação e murmuração. Buscando sempre algo de Deus, mas jamais se doando a Deus.

O salmista aqui está passando por um dos piores momentos de sua vida. O versículo três diz que laços de morte o cercaram, ou seja, ele ficou cara a cara com a morte. Ele diz ainda que angústias do inferno (sheol) se apoderaram dele, e por isso ele caiu em tribulação e tristeza. Por estar de frente com a morte (por estar dominado pelo sheol – profundezas, sepultura, morte) sua angústia se tornou infernal a tal ponto dele estar prostrado em intensa tribulação e tristeza. E apesar de toda a sua angústia ele ainda continuava crendo no Senhor Deus de sua vida (vs 10). Sua perturbação era tanta com a possibilidade real da morte que ele não mais confiava que homem algum podia livrá-lo daquela situação, pois vão seria o auxílio humano (vs 11). 

No entanto, diante de tantas lutas e fraquezas o salmista não demonstra frustração com Deus, ele também não demonstra estar insatisfeito com Deus, ele também não murmura diante de Deus, mas sim enche o seu coração de gratidão e sua boca de ações de graças por todos os benefícios que o Senhor estava lhe concedendo. E foi por estar inebriado por um espírito de gratidão que ele compõe este belíssimo salmo.

Talvez você diga: como o salmista pode estar agradecido a Deus diante de tantas tribulações, incertezas, lutas, tormentos e aflições. Eu lhe digo: Ele creu e aceitou pela fé que os inúmeros benefícios que o Senhor nos concede em qualquer tempo e em qualquer situação são maiores, mas são muito maiores, são super, hiper, mega, giga maiores do que nossas lutas e dores neste mundo. Quando lemos o Sl 116 vemos sua expressão de gratidão por diversas razões:

1 - Ele estava agradecido a Deus pelas repetidas respostas as suas orações

116.1 Amo o SENHOR, porque ele ouve a minha voz e as minhas súplicas.
116.2 Porque inclinou para mim os seus ouvidos, invocá-lo-ei enquanto eu viver.

2 - Ele estava agradecido a Deus pelo livramento de morte

116.3  Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; caí em tribulação e tristeza.
116.4  Então, invoquei o nome do SENHOR: ó SENHOR, livra-me a alma.
116.8 Pois livraste da morte a minha alma (…).

3 – Ele estava agradecido a Deus pela sua compaixão, justiça e misericórdia

116.5 Compassivo e justo é o Senhor, o nosso Deus é misericordioso.

4 - Ele estava agradecido a Deus pelo livramento do abatimento emocional

116.6 (…) achava-me prostrado, e ele me salvou.
116.8 (…) Pois livraste... Das lágrimas, os meus olhos.
5 – Ele estava agradecido a Deus pela sua generosidade

116.7 Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo.

6 - Ele estava agradecido pelo poder de Deus que o capacitou a superar as tentações

116.8 (…) livraste... da queda, os meus pés.

Ao contemplar quem Deus era, o que Deus lhe dava e a obra que Deus fazia em sua vida, apesar de suas lutas e dores, o salmista conclui que os benefícios que o Senhor lhe tinha concedido eram muito maiores que seus problemas, e então ele pergunta a si próprio: Que darei ao SENHOR, por todos os seus benefícios para comigo?

Primeira resposta: tomarei o cálice da salvação.

116.3 Tomarei o cálice da salvação (…) – Este termo deve ser entendido a luz do Salmo 116 que é um salmo de ações de graças. Aqui, ele está fazendo referência ao copo de vinho, que faz parte da celebração da Páscoa, que por sua vez, relembra o dia no qual os israelitas foram salvos da escravidão do Egito, o que para nós Cristãos, é o dia em que Cristo nos salvou da escravidão do pecado pela Sua morte expiatória na cruz. Tanto para os judeus, quanto para nós, a gratidão a Deus por sua salvação deve vir antes de qualquer coisa. Na ceia do Senhor nós celebramos e relembramos com ações de graças sua morte e ressurreição. Nós o agradecemos e celebramos pela comunhão com o corpo de Cristo e com Ele, e ainda o agradecemos pelo futuro cumprimento da plenitude do Reino de Deus quando nós estaremos para sempre com o Senhor.

Você é grato a Deus pela salvação que ele lhe concede. Você é grato a Deus por participar da mesa de comunhão do Senhor, tomando do seu cálice, tendo como anfitrião o próprio Cristo. Você é grato por compartilhar de sua salvação com sua família de fé, o corpo de Cristo, a igreja.

Tomar o cálice da salvação é ser grato por Ele, pela obra de salvação por parte Dele. Por hoje você pertencer a Ele, servir a Ele, viver pra Ele, e dar glórias a Ele por tantos benefícios.

Segunda resposta: invocarei o nome do Senhor.

V. 13 (…) invocarei o nome do SENHOR - Percebemos que a oração que ele faz se refere a sua plenitude (completude, inteireza) de gratidão a Deus. A gratidão a Deus para ele não era um adendo em sua vida, não era um apóstrofe em sua vida, mas sim passou a ser a razão de sua vida por tantos favores da parte de Deus. Veja que ele diz: “Invocarei”, isso é futuro, significa estar sempre o invocando. Ele diz no versículo 2: “invocá-lo-ei enquanto eu viver”. O que vou dar ao Senhor por tantos benefícios? Invocarei o seu nome enquanto eu viver. Viverei de forma a expressar minha gratidão ao Senhor em todo tempo. Seja nas minhas angústias, nas provações, nas tentações, nas incertezas, nas dores. O profeta Jeremias (33.3) diz: “Invoca-me, e te responderei, anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas que não sabes”. Somente quem o invoca com a alma mergulhada na gratidão e o espírito inebriado por ações de graças poderá conhecer os feitos grandiosos e misteriosos do Senhor. O salmista passou por esta experiência, nós também podemos passar.

Terceira resposta: pagarei os meus votos publicamente

14 Cumprirei os meus votos ao SENHOR, na presença de todo o seu povo – A palavra voto em hebraico é “neder” e significa prometer voluntariamente ou dar alguma coisa.

O voto é uma promessa feita a Deus. O que pode ser uma expressão de gratidão por algum favor concedido, ou uma promessa de manifestar gratidão por algumas bênçãos desejadas, caso Deus ache por bem nos conceder. Portanto, o voto é uma promessa que alguém assume perante Deus e isso de forma voluntária, pois o voto não era obrigatório. O voto também não tinha o caráter de barganha, ou toma lá dá cá.

Ao que parece, anteriormente, enquanto passava pelo aperto, o salmista votou a Deus, ele prometeu algumas ofertas para Deus. Uma espécie de retribuição por tudo aquilo que o Senhor fizesse em sua vida. Portanto, havia nele anteriormente uma mentalidade de “barganha” com Deus, do tipo: “se me abençoares farei isto ou aquilo”. Entretanto, ele entendeu que Deus lhe concedia favores inimagináveis que ultrapassavam o estabelecimento e o cumprimento de um mero voto.  Com isso, seu desejo não era mais cumprir seus votos com “espírito de barganha”, mas por pura gratidão somente.

É por que somos gratos a Deus que devemos cumprir os votos. É por gratidão a Deus que ofertamos nossas vidas. É por gratidão a Deus que o servimos, é por gratidão a Deus que dizimamos e ofertamos, é por gratidão a Deus que cultuamos, é por gratidão a Deus que testemunhamos. A gratidão tem que vencer o “espírito de barganha”, e de “murmuração”.

O salmista desejou com sincera gratidão cumprir os seus votos diante do Senhor, na casa do Senhor e no meio do seu povo. (Sl 116.14,19). Ele não mais queria guardar para ele e para Deus, mas expressar toda a sua gratidão publicamente.

Muitas vezes estamos inconscientemente votando a Deus com espírito de barganha, e o pior é que não cumprimos. Exemplo: Dentro de si você diz que seu namoro será santo, que sua vida será santa. Que sua vida será de obediência e submissão a Deus. E aí você pensa: Deus me abençoará grandemente se eu fizer isso ou aquilo. Isso não está totalmente errado. Porém, porque não ser grato a Deus primeiro porque ele lhe tornou santo através do Espírito e da Palavra, e lhe concedeu uma fé através de Cristo para que você a exerça em obediência e submissão. O Evangelho é Deus vindo até ao homem, e a religião é o homem querendo pegar uma escada para ir até Deus.

Nós achamos que temos que fazer tantas coisas para Deus nos abençoar, quando já somos abençoados. Achamos que temos que nos sacrificar para tantas coisas, quando ele já sacrificou seu Filho. Achamos que temos que chamar a atenção de Deus para ele nos atender, quando ele já enviou seu Filho a nós. Achamos que temos de ir a tantos lugares em busca de tantas coisas, quando seu Filho já consumou tudo na cruz.

Ei, você não precisa fazer votos a Deus ainda que inconscientemente sabendo que não vai cumpri-los. É melhor você exercer gratidão a Deus por tudo o que faz, entendeu?

* Você tem um compromisso com Deus, cumpra-o por gratidão.
* Você prometeu evangelizar, visitar, orar, aconselhar, faça isso por gratidão.
* Você prometeu ser fiel a Deus e a sua liderança, faça isso por gratidão ao seu Deus fiel.
* Você prometeu servir, faça isso por gratidão ao seu Senhor. 

Dar o que se de tudo nós recebemos. Quer se relacionar com Deus de modo sadio, então Seja você grato a Deus todos os dias e pergunte-se: Que darei ao SENHOR, por todos os seus benefícios para comigo? Como o salmista você chegará a conclusão que por mais que você tente retribuir a Deus, você não chegará à altura dos seus favores e bençãos que Ele já nos tem concedido por misericórdia e graça.

O melhor que eu e você podemos oferecer a Deus como forma de gratidão, é justamente não sermos ingratos e recusarmos com atitudes os favores que ele nos oferece em Cristo. Por isso tome o cálice da salvação, invoque o nome do Senhor e cumpra os votos publicamente.


Dar o que, se de tudo recebi? Vou ser grato e agradar o meu Deus! 

Bendito seja o Evangelho,

Pr. Flavio Muniz

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Palavra de Nova Vida - Pr. Flavio Muniz

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