quarta-feira, 7 de abril de 2010

Águas que produzem compaixão

“Por causa das águas do dilúvio, entrou Noé na arca, ele com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos.” (Gn 7.7)

Não chegou a ser um dilúvio como nos dias de Noé, mas as “águas” que caíram sobre o Rio de Janeiro nesses últimos dias foi o suficiente para que cada um pudesse correr e buscar refúgio em sua “arca”. Para que todos possam ter uma noção do que aconteceu, reproduzirei parte da reportagem do dia 06/04 publicado pelo site G1 da Globo.com:

“O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informa que a tempestade, que começou na segunda (dia 5) e se prolongou pela madrugada e pela manhã da terça, foi a pior na cidade desde 1962. A prefeitura do Rio diz que foi a mais severa tempestade da história da cidade, com o registro de 288 milímetros de chuva em dia desde as 18h de segunda-feira. Em alguns bairros das Zona Norte e Oeste, choveu duas vezes e meia o esperado para todo o mês de abril. O Instituto de Pesquisas Especais (INPE) calculou: o volume de água daria para encher 300 mil piscinas olímpicas. A chuva foi provocada pelo encontro de duas fortes frentes frias que chegaram ao estado do Rio com menos de 24 horas de diferença. Segundo técnicos, uma das frentes fria chegou do Sul, vinda pelo oceano, se encontrou com outra, formada por nuvens carregadas que estavam em Minas Gerais e em São Paulo, provocando os temporais”.


Diante dos problemas, das mortes, das perdas, e do terror que as chuvas provocaram, o sentimento que deve inundar o nosso coração deve ser o de compaixão. Compaixão segundo o dicionário Aurélio é: “Sentimento de pesar que nos causam os males alheios; comiseração, piedade, dó”. No entanto, é bom ressaltar que a verdadeira compaixão ultrapassa um mero sentimento de dó ou de pena e passa para a aceitação do outro como ele realmente é, pois compaixão é quando amamos os outros incondicionalmente. Vemos isso quando olhamos para Jesus:

Mateus 15.22 – “E eis que uma mulher cananéia, que viera daquelas regiões, clamava: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada”.

Mateus 15.32 – “E, chamando Jesus os seus discípulos, disse: Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanece comigo e não tem o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça pelo caminho.”

No contexto desses dois textos, os discípulos de Jesus me parecem não terem entendido o que era de fato ter compaixão; pois com relação à mulher, pediram para que Jesus a despedisse já que era uma gentia histérica e não fazia parte da linhagem israelita, e com relação à multidão faminta, disseram ser impossível achar pães suficientes naquela hora para alimentar tanta gente. Nos dois casos Jesus poderia simplesmente sentir dó ou piedade e despedi-los de mãos vazias, porém ele preferiu ter uma compaixão prática e abençoá-los de alguma maneira, e o fim de cada história mostra isso. A filha daquela mulher desesperada foi liberta e aquela multidão foi suficientemente alimentada. Observe o vocábulo compaixão nos textos: A mulher clamou por compaixão, já a multidão foi agraciada por Jesus com seu desejo puro de compaixão.

As chuvas intensas nos mostram o que temos diante de nós nesses dias: um povo que clama por compaixão e uma multidão que anseia que nosso coração se incline a ter compaixão.





Como igreja do Senhor, nossos olhos não podem ficar secos diante de tanto desespero, nossas mãos não podem deixar de serem estendidas sobre os aflitos, nosso coração não pode abrigar simplesmente um sentimento de dó ou de piedade. Nossa compaixão deve ser prática e não abstrata. A compaixão de Jesus foi assim. Ainda que não possamos estar junto com eles presencialmente ou com nossos ombros para que eles chorem sobre eles, que estejamos pela oração, pela súplica e pelos laços que nos unem por simplesmente sermos semelhantes ao Pai.

Como Igreja do Senhor, nos condoemos com todos aqueles que perderam seus entes queridos, com todos que se adoentaram, que se machucaram, que se refazem de um susto desesperador, que perderam suas casas, que não possuem mais esperança de futuro. Como igreja, queremos que saibam que estamos chorando a sua dor e sentindo o seu sofrimento, ainda que estejamos fazendo bem pouco, conte com nossas orações, com nosso apoio e com nossa ajuda. Não estamos interessados em saber sua religião, seu estado civil, sua cor e sua condição social, nós estamos interessados em amar, em ter compaixão, pois assim nosso mestre nos ensinou.

Rogamos aos céus que o tempo e a graça de Deus sejam eficientes para a superação das perdas e o retomada da vossa vida em toda a sua plenitude.

A Igreja do Senhor por seu humilde servo,

Pr. Flavio Muniz

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Palavra de Nova Vida - Pr. Flavio Muniz

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