(Gl 6.1-10) - Entender a fraqueza humana pelo prisma de Deus não é algo tão fácil assim. Enquanto Deus é longânimo, misericordioso, justo e bom, o ser humano mesmo sendo sua imagem e semelhança, é carnal, terreno, limitado, falho, tendencioso ao pecado, fadado as circunstâncias da vida e do tempo. A fraqueza humana é um tema bem difundido na Bíblia, quem não se lembra das palavras de Abrão, demonstrando sua fraqueza e limitação, depois que Deus tinha lhe prometido um herdeiro: “Senhor Deus, que me haverás de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliéser? (Gn 15.2).
Quem não se lembra das palavras de Moisés demonstrando sua fraqueza e limitação quando Deus o mandou tirar seu povo do Egito: “ Ah! Senhor! Eu nunca fui eloqüente, nem outrora, nem depois que falaste ao teu servo, pois sou pesado de boca e pesado de língua” (Ex 4.10). Quem não se lembra das palavras do apóstolo Paulo refletindo sobre a natureza humana em (Rm 7.15-20) “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.”Quem não se lembra das palavras de Jesus no Getsêmani momentos antes de ser preso para ser crucificado: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca.”
Eu fiz questão de lembrar destes personagens Bíblicos para que você tenha ciência de que a Bíblia como palavra de Deus não nega e não esconde a fraqueza humana, como também nos traz uma orientação segura e divina para lhe dar com ela, trazendo o conforto e a coragem necessária. Algo de muito interessante acontece com a Igreja quando ela trata da fraqueza humana, uns são extremamente legalistas e vêem o pecado ou a limitação do próximo como algo muito condenável passível de julgamento e condenação, outros pelo contrário se sentem com muita liberdade em Cristo e vêem o pecado do próximo como algo normal e digno de pena e absolvição. Eu creio que a Igreja precisa se voltar para a Bíblia para buscar um entendimento equilibrado, apostólico e divino sobre a questão. E pensando nisso eu separei este texto em Gálatas que vai nos orientar sobre como lhe dar com a fraqueza humana pelo prisma apostólico e divino.
Devemos entender que os crentes da Galácia a princípio receberam o evangelho com grande alegria e confiança, porém com o passar dos tempos eles foram se esfriando e isso foi dando brechas para grandes problemas doutrinários entre eles, ao ponto de Paulo escrever esta carta mesmo quando estava doente (Gl 4.13). Talvez o maior problema da Igreja fosse os judaizantes, judeus convertidos que tentavam convencer os Gálatas de que o evangelho de Jesus Cristo para ser prefeito teria de ser submetido ao crivo da Lei de Moisés e manter em vigor algumas práticas do judaísmo, principalmente a circuncisão. Paulo ao saber disso fica tão furioso que os chama de falsos irmãos que se entremeteram com o fim de espreitar a liberdade de todos em Cristo para a volta a escravidão da Lei (Gl 2.4). Esses, segundo Paulo percorriam igrejas recém-formadas naquela região e as confundiam com ensinamentos alheios e opostos ao verdadeiro evangelho, e ainda atacavam a autoridade e a legitimidade de seu apostolado. Devido a isso Paulo defende a autenticidade do evangelho pregado a eles (Gl 1.11,12) e a legitimidade do seu trabalho como apóstolo chamado e enviado por Deus para pregar Jesus Cristo entre os gentios (Gl 1.15,16).
Este evangelho que Paulo pregou a eles incluía a liberdade cristã, tema amplamente discutido em Romanos e em Coríntios (Gl 5.1), essa liberdade que Paulo cita, é frente à Lei, porém ele faz uma ponte para dizer que inclusive é uma liberdade para pecar, no entanto, no ensino do apóstolo ele nos orientou sobre a questão (Gl 5.13) dizendo: “Porque vós, irmãos, fostes chamados a liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião á carne; sede antes, servos uns dos outros, pelo amor”.
Veja queridos, aqui Paulo associa a liberdade a um viver cristão sadio e sem pecado, no entanto ele não esquece daqueles que possivelmente usariam da liberdade em Cristo para dar ocasião ao pecado, dizendo: “sede antes, servos uns dos outros, pelo amor”.
O que Paulo está explicando aqui, é que não devemos pecar dentro da liberdade que Deus nos concedeu pelo evangelho, no entanto se isso acontecer todos devem cumprir a lei de Cristo, e colocar o amor em primeiro lugar, pois segundo Paulo, a base e o âmago da lei de Cristo é o amor compromissado com Deus e com o próximo: “Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5.14).
Entenda queridos, segundo Paulo a fraqueza da carne, a fraqueza humana, deve ser compreendida pelo prisma do amor, porém não um amor descompromissado com o próximo e sim um amor compromissado com o próximo, pois todos devem ver o próximo como a si mesmo. Vamos fazer um teste conosco agora (julgue a você mesmo e pergunte para si, o que deveria acontecer com você depois desta atitude errada que você teve esta semana ou a algum tempo atrás?). E aí o que você respondeu pra si? Pois é, quando pecamos nós queremos a misericórdia de Deus sobre nós, somos falhos e coitadinhos, porém quando quem peca é o próximo, nós queremos que ele seja condenado!
Eu sei que não é tão fácil compreender a dimensão do amor de Deus por nós, porém não pode ser difícil para nós, amar irmãos! pois Deus é amor e nós possuímos sua imagem e semelhança, e isso significa que possuímos a centelha do amor de Deus em nós. Como você tem tratado aquele que pecou contra você? Como você tem visto o pecado do irmão ao lado? Qual tem sido o seu comentário a respeito? Qual foi a sua atitude?
Paulo em Gálatas nos abriu os olhos para compreendermos a fraqueza humana e com isso amarmos profundamente com o fim de cumprirmos a Lei de Cristo. O cumprimento da Lei de Cristo é um assunto vital nesta carta, e Paulo nos traz pérolas que em muito acrescentarão em nossa espiritualidade e nos ajudarão a tratar tanto da questão da liberdade cristã, quanto do pecado pessoal e da fraqueza do próximo. Vejamos no próximo post! Até lá.
No amor da Lei de Cristo,
Pr. Flavio Muniz