Baseado no relacionamento entre Elcana e Ana (1Sm 1. 1-18)
Interagir, ser correspondido,
honrar o compromisso, ter cumplicidade, andar em acordo. Todas essas palavras
expressam as qualidades de um relacionamento entre marido e mulher, entre pais
e filhos, e porque não dizer entre nós e o nosso Deus. Muitos nos dias de hoje,
quem sabe devido ao ranço religioso e filosófico, acham que Deus é um ser
impessoal, distante, frio, tirano, não atencioso, incapaz de ser amigo. Quando
na realidade a Bíblia mostra o contrário. A Bíblia está repleta de textos
que descrevem Deus como um ser desejoso de se relacionar em amor com seus
filhos:
“A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará
a conhecer a sua aliança. (Sl 25.14)”
“Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí”.
(Jr 31.3)
“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida
em favor dos seus amigos. (Jo 15.13)
“Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor”.
(Jo 15.9)
E a Bíblia ainda descreve vários
personagens que desfrutaram de um relacionamento com Deus:
Enoque obteve o testemunho de ter agradado a Deus, Noé andava com Deus, Davi
era um homem segundo o coração de Deus, João era conhecido como o apóstolo do
amor etc.
Concluímos que a Bíblia é clara quanto a descrever o desejo de Deus em se
relacionar em amor com seus filhos, como também é clara em descrever
personagens que foram objetos do amor de Deus e que viveram um relacionamento
com Deus intensamente. Então, a grande questão
não é Deus querer se relacionar conosco, ou o homem querer ou recusar se
relacionar com Deus, a grande questão é como nós nos relacionamos com Deus?
Você tem se relacionado com Deus? Como anda seu relacionamento com
Deus? Como você tem se relacionado com Deus?
Deus sempre será uma pessoa que
deseja se relacionar em amor, mas que também exige posturas das pessoas com que
se relaciona. Apesar dele mesmo não se deixar ser exigido porque é Deus, sua
postura pessoal é fora de qualquer comentário, já que Deus é amor, é longânimo,
é benigno, é misericordioso e bom. Não é necessário exigirmos de Deus “amor”
porque ele é amor... E etc.
Elcana era levita, descendente de Coate. Ele possuía duas
mulheres: uma se chamava Penina (pérola, fértil) e a outra Ana (Graça,
graciosa). Embora a poligamia fosse tolerada pela lei de Moisés (Dt 2:15-17),
isso não a fazia correta e boa. A monogamia sempre foi o princípio ideal que
Deus estabeleceu para a formação da família. Fato é que existia entre essas
duas mulheres uma grande diferença, uma dava filhos a Elcana (Penina), e a
outra não lhe dava (Ana). A bíblia diz que todas as vezes que Elcana ia cultuar
ao Senhor em Siló, Penina irritava excessivamente a Ana, zombando dela por ela
não lhe dar filhos. Lógico que todo esse escárnio fazia com que Ana não
comesse, ficasse triste, e a cada dia ela ia se tornando mais e mais uma pessoa
amargurada.
Elcana
sempre vinha consolá-la nesses momentos e sempre deixou claro que amava mais a
Ana do que a Penina, mesmo sendo ela estéril. Ana era uma mulher de Deus, uma mulher
que confiava e cria no seu Deus, tanto é, que mesmo triste e abatida por não
dar filhos ao seu marido ela não deixava de clamar e chorar perante o Senhor
lhe pedindo um filho (1Sm 1.10-1).
O
amor de Elcana por Ana nos ensina alguns aspectos de como deve ser o nosso
relacionamento com Deus:
1 – A presença de Deus precisa ser priorizada
Tanto Elcana quanto Ana eram
pessoas que priorizavam a presença de Deus em todos os momentos. Elcana era um
homem fiel que temia e reverenciava o Senhor, haja vista os sacrifícios que
cotidianamente oferecia a Deus como ato de fé, culto e gratidão (Vs 3). Ana
vivia na casa do Senhor, servia ao Senhor, era uma mulher de oração fervorosa e
intensa que derramava sua alma perante o Senhor. Ana era verdadeiramente
separada por Deus, tanto é que foi o próprio Deus que cerrou sua madre para a
preparar para o nascimento de um dos maiores profetas de Israel (Vs 5). Este
casal priorizava a presença de Deus.
Quem se relaciona em amor sempre
prioriza a presença do outro. Como nós que nos relacionamos com Deus não vamos
priorizar. Deus nunca deixará de estar conosco, mas nós temos a tendência de
nem sempre estarmos com Deus. Deixamos Deus de lado quando pecamos, quando
deixamos a Palavra e a oração de lado, quando deixamos o nosso irmão de lado,
quando não expressamos o seu amor em nossas palavras e atitudes e etc.
“Então, lhe disse Moisés: Se a tua presença não vai comigo, não
nos faças subir deste lugar”. (Ex
33.15)
Se você quer se relacionar corretamente com Deus, priorize sempre
a presença Dele, pois ela nos sustenta, nos guia, nos fortalece, nos traz esperança e confiança.
2 – O amor precisa ser demonstrado na prática
Elcana não somente dizia que amava
a Ana, Ele demonstrava que amava. Ao sair de sua cidade para ir a Siló ele
levava animais para que servissem de sacrifício ao Senhor e para o sustento de
sua família. E para Ana, a bíblia diz que ele dava porção dupla, demonstrando
seu amor incondicional. E este amor incondicional podia ser comprovado pela forma
que Ele se importava com o sofrimento de Ana (Vs 8). A demonstração de amor num
casamento é fator essencial para um casamento forte e vitorioso. Portanto num
casamento não pode faltar: Elogio, atenção, aceitação, afeição, reciprocidade, carinho,
amizade constante.
Da mesma forma deve ser o nosso
relacionamento com Deus. Quem ama a Deus demonstra que ama, não se esconde, não
fica inativo, não fica ocioso. Simplesmente dizer que amamos a Deus, é muito
pouco para um ser que derrama amor e graça constantemente. É muito pouco para
um Pai que guarda a sua misericórdia para sempre e não nos trata segundo os
nossos delitos e pecados. È muito pouco para um Deus que se despiu de sua
glória e veio se relacionar conosco encarnado cheio de graça e de verdade. Nossa
resposta ao amor e a graça de Deus dispensada a nós deve ser com atitudes
impulsionadas e dirigidas pelo Espírito de Deus em conformidade com a Palavra
desse Deus.
Existem várias formas de demonstrarmos
nosso amor por Deus. De acordo com Jesus isto deve começar pelo primeiro e
grande mandamento: Amarás ao Senhor teu Deus....de todo o teu coração, alma,
entendimento e força. Amarás o próximo como a ti mesmo.
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me
ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me
manifestarei a ele”. (Jo 14.21)
3 – Os planos precisam ser traçados em acordo e unidade
O maior sonho de Ana era ter
filhos e o maior desejo de Elcana era que Deus lhe abrisse a madre para
conceber. Eles tinham sonhos juntos, buscavam o mesmo objetivo juntos, nunca
separados. A bíblia diz: “andarão dois juntos se não tiver entre eles
acordo?”. Ana orava ao Senhor por um filho (Vs 10-11) e Elcana era parte
essencial para que isto acontecesse (Vs 19). Elcana e Ana viviam em acordo e em
unidade. Eles são exemplos de quando há acordo e unidade dentro de um
casamento, os planos e propósitos de Deus são estabelecidos de modo natural. Podemos e devemos traçar objetivos,
sonhos e projetos. Mas jamais podemos nos esquecer de fazer isso em acordo e
unidade com Deus.
“Porque para todo propósito há tempo e modo...” (Ec 8.6a) – Em
nosso relacionamento com Deus precisamos aprender a tomar nossas decisões no
tempo certo e do modo pelo qual Deus deseja para que nossos propósitos não
sejam frustrados. “Tu, SENHOR,
conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em
ti”. (Is 26.3) – Isso é fruto de uma parceria!
“Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém,
que faz a vontade de Deus permanece eternamente”. (1Jo 2.17)
– Em tudo o que fazemos precisamos almejar a vontade de Deus, ter disposição
para decidir pela vontade de Deus. Tudo neste mundo é passageiro, mas as
promessas de Deus não são. Que possamos primar por um compromisso que valorize
a vontade de Deus em todos os seus aspectos, pois suas promessas são eternas e
não temporais.
4 – Exaltar a fidelidade de Deus pelas bênçãos recebidas
Ana finalmente concebe Samuel (Vs
19-20). Ela tinha total consciência de que Samuel era fruto da fidelidade do
Senhor, tanto que o levou ao sacerdote Eli para que ele fosse consagrado a
Deus. Para Ana o que era do Senhor deveria ser devolvido ao Senhor (Vs 26-28).
Mesmo estando muito feliz por ter seu filho em seus braços, ela abriu mão do
direito de ser a primeira no coração do seu filho, para que o Senhor fosse o
primeiro. Isso significa exaltar a fidelidade de Deus pela benção recebida.
Ana era muito grata a Deus por tudo que tinha recebido e por isso ainda fez um
cântico que demonstrava a fidelidade de Deus (1Sm 2.1-2).
Muitas vezes em nosso
relacionamento com Deus, nos pegamos meio que sem querer duvidando da
fidelidade de Deus. Muitas vezes estamos insatisfeitos com suas bênçãos, mas
Ele permanece fiel. Às vezes nos assustamos com as notícias ruins, mas Deus
continua sendo fiel. Às vezes desanimamos com as pessoas que nos decepcionam,
mas Deus continua sendo fiel. Às vezes reclamamos das provações, mas Deus
continua sendo fiel. Ás vezes cedemos as tentações, mas Deus continua sendo
fiel. Ás vezes nossas palavras soam como ingratidão por tudo o que ele fez e tem
feito em nossas vidas, mas Ele permanece fiel. Ana
exaltou a fidelidade de Deus com gratidão e louvor, que possamos fazer o mesmo
para desfrutarmos de um relacionamento ainda mais sadio com Deus.
Priorizar a presença de Deus,
demonstrar amor na prática, planejar junto com Deus, e exaltar sua fidelidade
por suas bênçãos, fazem parte de um viver diário com Deus que nos leva a
desfrutá-lo de modo sadio e comprometido.
Que através do exemplo de amor entre Elcana e Ana possamos ser
motivados a viver um relacionamento sadio, compromissado e que agrada a Deus.
Pr.
Flavio Muniz