(Lc 22.7-20) - A ceia ocupava um lugar central na vida da igreja primitiva. Eles celebravam a ceia a cada culto, no final de sua liturgia. A ceia, mesmo que variando a sua teologia de tempos em tempos, nunca deixou de ocupar um lugar de importância para a vida da igreja em toda a história. No primeiro dia da “Festa dos Pães Asmos” quando, de acordo com a tradição judaica, se fazia o sacrifício do cordeiro pascal (Mc 14.12), Jesus ordenou a Pedro e João que preparassem a Páscoa. Aquela era a última refeição de Jesus, a última páscoa celebrada na companhia dos discípulos (Mt 26.29). No entanto aquela seria a primeira ceia celebrada entre eles, os elementos seriam sacralizados, transformados em sacramentos, dogma da igreja, e assim dali em diante, a igreja passou a celebrar a ceia e a celebrará até o dia de sua volta. (Mt 26.26-28).
O ambiente onde a última Páscoa e a primeira Ceia foram realizadas era especial...”um espaçoso cenáculo mobiliado e pronto”. (Mc 14.15/Lc 22.12). O cenáculo era uma sala em um andar superior da casa onde costumeiramente se realizavam as refeições. O cenáculo era coberto de tapetes e talvez mobiliados com divãs – uma espécie de sofá sem encosto, feito de tapetes. A celebração da ceia para os discípulos naquele cenáculo era completamente diferente das refeições que tiveram anteriormente, pois seu Mestre seria o próprio elemento a ser celebrado. Aqueles elementos tipificavam sua vida e morte em favor dos homens. (Lc 22.19).
Algo nos chama a atenção nesta atitude de Jesus de reunir todos os seus discípulos ao redor da mesa, é que a essência da Santa Ceia é a comunhão – Comum-união entre os discípulos. Paulo expressa isso, quando faz referência a unidade do Espírito pelo vínculo da paz, mostrando nossa identificação com Deus e uns com os outros pela fé (Ef 4.1-6). Ceia é isto, é comunhão, é partilharmos a mesma esperança de retorno “até que ele venha” (1Co 11.26); é esforço diligente na preservação da unidade do Espírito por aquilo que nos une.
O que nos une? O amor de Deus que foi derramado em nosso coração pelo Espírito nos traz paz, este é o vínculo da paz. (Ef 4.3). Não se pode separar Comunhão e Amor na celebração da Santa Ceia. O amor nos fez um, nos juntou; nos fez um só corpo em Cristo, o amor nos fez igreja, o amor estabeleceu unidade.
E se existe um elemento que na Ceia demonstra a nossa unidade, esse elemento é o pão, pois a igreja é corpo, e o pão na Ceia, simboliza o corpo do Senhor.
Nas terras do Antigo oriente tanto o pão quanto o vinho eram as formas mais comuns de alimentação. O pão que aparece cerca de 280 vezes no Antigo Testamento, em termos gerais significa alimento, sustento, por isso sua presença era indispensável para o povo judeu. Segundo a tradição judaica, o pão deveria ser tratado com todo respeito, sendo proibido até mesmo jogar as migalhas fora. Talvez os judeus utilizassem cães domésticos para esta função; lembra da passagem da mulher cananéia: Jesus: “Não é bom tomar o pão dos filhos e lança-los aos cachorrinhos. A mulher disse:“os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos”.
Os judeus empregavam o pão para fins religiosos, sendo o ato, uma espécie de gratidão pelos cuidados providenciais de Deus quando simbolicamente entregavam, nos atos litúrgicos, parte do que foi provido por Ele.
O pão era usado nas ofertas pacíficas, oferta das primícias, fazia parte da cerimônia de Páscoa, e naturalmente se tornou parte importante na Santa Ceia. Quando lemos o texto de Lucas: “E tomando um pão, tendo dado graças o partiu...” (Lc 22.19), não temos a real noção do que era isso para um judeu. Para um judeu o pão não podia ser cortado, mas sim partido. Esse gesto era comum entre famílias judaicas, onde o pai, ao iniciar uma refeição, tomava um pão, e, após dar graças ao Senhor, partia-o em pedaços e distribuía-os entre os membros de sua família.
Se para o judeu o pão tinha toda esta importância, imagina o que Jesus queria demonstrar aos discípulos quando pegou o pão, deu graças, o partiu, e dividiu entre eles?
1 – Um memorial da sua morte – Os elementos simbolizam o próprio corpo e sangue de Jesus, que foram ofertados em sacrifício por amor a nós. Em (1co 11.26), Paulo nos ensina que a celebração da ceia é uma pregação, um anúncio da morte do Senhor até que ele venha “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha”. Na ceia nos lembramos dos benefícios que a morte de Cristo nos trouxe.
2 – Ensinar o real sentido dele ser o pão da vida – A ceia também nos lembra de Cristo como fonte de alimento e força espiritual para vivermos uma vida que agrada a Deus (Jo 6.53-57). Jesus é o verdadeiro sustento de nossa alma, nosso pão diário que nos dá vida e vida em abundância.
3 – Comunhão com ele e comunhão com a Igreja – A ceia surge da unidade e produz unidade, a ceia nos lembra que estamos em comunhão com Cristo e em comunhão com sua igreja. Paulo faz referência ao pão que partimos como comunhão do corpo de Cristo (1Co 10.16,17). Somos um só corpo e um único pão que deve ser repartido.
4 – A importância do partir do pão para os membros da Igreja – Na ceia, Jesus queria que sua morte fosse lembrada como um pão que é partido e dividido (Ele suportou a dor, os escárnios, os açoites, o julgamento e foi transpassado), no entanto, ele queria também que o pão fizesse sentido a igreja como seu corpo. O pão é alimento, é sustento, por isso a comunhão e o compromisso entre cada membro do corpo traz vitalidade ao mesmo. Num outro sentido, Jesus também queria que eles fossem por eles mesmos um pão dividido, demonstrando assim o amor, o compromisso, o serviço, e o caráter cristão. Todos que participam da mesa são pães repartidos, pois cada um de nós diz a Bíblia devemos dar vida pelos irmãos, e pela igreja.
Pr. Flavio Muniz