(Lc 2.41-52) - O esquecimento passou a fazer
parte do cotidiano humano. Vivemos numa época muito corrida, na qual queremos
de pronto resolver tudo de uma só vez, pois tudo é para ontem. E essa corrida frenética
pelas coisas do dia-a-dia da vida ajudam a nossa mente a vagar pelo
esquecimento de coisas importantes e pasmem até mesmo de pessoas importantes. Já
percebeu o quanto é comum esquecermos de pessoas importantes, simplesmente
porque estamos presos a coisas ao nosso redor que julgamos importantes. Esses dias li no facebook: “O que a
internet faz mais com você: te aproxima das pessoas que estão longe, ou te
afasta das pessoas que estão perto?
Irmãos, muitas vezes sem perceber
estamos vivendo intensamente presos as coisas que estão mais próximas de nós,
observando apenas as coisas que estão ao nosso redor, e não estamos nos atentando
para o que realmente é importante em nossa vida. Precisamos entender que nem
sempre o que está nos reclamando atenção e está ao nosso redor é mais
importante. Será que nossas coisas são mais importantes do que as pessoas? Será
que o nosso trabalho é mais importante do que a nossa família? Será que nosso
lazer pessoal é mais importante do que Deus?
Exemplo: Um rapaz com muita pressa, esqueceu o filho no carro e
foi para a academia em SP.
Pergunta:
porque trocamos as coisas mais importantes pelas coisas menos importantes ou as
que estão ao nosso redor? Eu encontro pelo menos três respostas a essa
pergunta:
1) Nós nos tornamos imediatistas.
“Terminados os dias da festa, ao regressarem, permaneceu o menino
Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem”. (Lc 2.43) - Bastou
terminar a festa, e eles estavam com pressa para voltar logo para casa. A festa
era de grande importância religiosa para os judeus, no entanto me parece que
regressar logo para Nazaré tinha caráter imediato. Será que José deixou a
carpintaria com alguma pendência de trabalho? Será que Maria deixou muita roupa
pra lavar em Nazaré? Será que na festa deste ano Jerusalém estava muito cheia,
e por isso precisamos voltar logo?
Pense em nosso cotidiano, em nossa
rotina: Queremos uma dieta rápida e revolucionária, sem deixar de comer
o que gostamos. Queremos estar empregados o mais rápido possível, e sem muita
exigência. Queremos que o médico nos cure em curto prazo de tempo e sem
tratamento.
E no campo religioso nem se fala:
folhetos dizem: “trago a pessoa amada em três dias”, e já mudaram isso sabia? Eu
vi um assim: “trabalhos infalíveis para todos os fins, trago a pessoa amada
rastejando”.
Já viu as campanhas nas igrejas:
“Deus mudará a sua sorte em 2012 em oito semanas”. “Sete semanas da restituição
total”. “Sete segredos para o homem ficar rico”. E essa é a mais nova: “A
pastora tal vai ministrar a unção do estudante para você ingressar logo na faculdade,
no concurso público etc.
Eu lhe pergunto:
somos ou não somos imeditatistas? Queremos ser abençoados, mas não queremos
trilhar o longo caminho do discipulado. Queremos estar na igreja, mas não
queremos ser igreja. Queremos vitórias do Senhor pra nossa vida, mas não
queremos lutas. Queremos decorar o versículo, mas não queremos conhecer o
Senhor na essência.
Como Jesus é diferente de nós, ele
estava no templo empreendendo tempo para ensinar aos doutores da lei. Ele não
estava com pressa de voltar para casa, ainda que tenha sido esquecido. “Três dias depois, o acharam no templo,
assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os”. (Lc 2.46)
Jesus jamais foi imediatista, Ele ficou
cerca de dezoito anos em Nazaré antes de manifestar-se ao mundo como Sacerdote,
Rei e Profeta. Formou seus discípulos em cerca de três anos e meio. Esperou e
cumpriu a vontade de Deus em todos os sentidos: em sua vida, morte e
ressurreição.
Que possamos aprender a esperar no
Senhor em todos os quesitos de nossa vida. Que possamos ser pacientes na mais
agitada tribulação. Que possamos aguardar pelo livramento do Senhor na noite
mais escura da nossa vida. Que possamos demorar em nossa pressa, e nos
apressar em compreender o tempo e a vontade do Senhor.
2) Nós valorizamos mais o Ter do que o Ser
“Pensando, porém, estar ele entre os companheiros de viagem, foram
caminho de um dia e, então, passaram a procurá-lo entre os parentes e os
conhecidos” (Lc 2.44) – José e Maria estavam tão presos ao que tinham, que juntaram
tudo, toda a bagagem, todos os pertences especiais. No entanto, esqueceram de
Jesus e só quando se afastaram cerca de 30 a 40 km de Jerusalém é que eles se
lembraram que Jesus não estava entre os companheiros de viagem. E aí passaram a
procurá-lo entre os parentes e conhecidos daquela caravana.
Sabe irmãos, a verdade é que queremos ter muita coisa, mais somos
pouca coisa. Queremos obter as bênçãos de Deus, queremos a unção de Deus
dobrada sobre nós, Queremos ter mais dons espirituais, queremos ter mais
habilidades ministeriais, mas não queremos ser cristãos, ser discípulos, ser servos,
ser obedientes, ser submissos, ser perseverantes, ser pacientes, ser sábios em
muitos episódios de nossa vida.
Como Jesus é diferente de nós, ele
mostrava ser muita coisa ao invés de mostrar que tinha muita coisa.
“E todos os que o ouviam muito se
admiravam da sua inteligência e das suas respostas. (Lc 2.47). O fato de
Jesus estar no meio dos doutores ouvindo e sendo ouvido, admirando e sendo
admirado, mostra o compromisso de servo que Jesus tinha, mostra o caráter
discipulador que ele possuía, mostra a humildade e paciência que tinha em
pregar e ensinar sobre o Reino de Deus (o que ele julgava ser mais importante).
Mostra que ele tinha habilidade e sabedoria para evangelizar. Mostra que ele
testemunhava á medida que fazia a vontade do pai “Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados; e sua mãe lhe disse:
Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua
procura. Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria
estar na casa de meu Pai? (Lc 2.48-49).
Existe um risco em preferir ter do que ser: “O Ser não se acaba
nem se perde com o tempo, mas o Ter pode terminar logo, num instante”.
Você lembra da segunda
multiplicação de peixes (Mc 8 e Mt 15). Lá diz que depois daquela multiplicação
Jesus resolveu ir para o outro lado da margem. “Ora, aconteceu que eles se esqueceram de levar pães e, no barco, não
tinham consigo senão um só”. (Mc 8.14). Como isso aconteceu, se sobrou sete
cestos cheios de pães? “Comeram e se
fartaram; e dos pedaços restantes recolheram sete cestos. (Mc 8.8).
Jesus era diferente, pois mostrava
ser muita coisa ao invés de mostrar que tinha muita coisa –
“Naqueles dias, quando outra vez se
reuniu grande multidão, e não tendo eles o que comer, chamou Jesus os
discípulos e lhes disse: Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que
permanecem comigo e não têm o que comer. Se eu os despedir para suas casas, em
jejum, desfalecerão pelo caminho; e alguns deles vieram de longe”. (Mc 8.1-3)
No Evangelho de João encontramos
registrado por sete vezes o “Eu Sou” de Jesus, Ele disse:
Eu sou o pão da vida; a luz do mundo; a porta; o bom pastor; a ressurreição e a
vida; o caminho a verdade e a vida; a videira verdadeira.
Se sete é o símbolo da perfeição
na bíblia, deduzimos então que segundo Jesus o que há de mais perfeito para
tornar um ser humano melhor é valorizar o ser, ao invés do ter.
3) Nós nos apegamos ao nosso Eu de maneira errada
José e Maria ao regressarem
imediatamente de Jerusalém se atentaram para todas as coisas ao redor,
verificaram tudo, observaram se estava tudo no lugar, mas só esqueceram de um
pequeno grande detalhe; Jesus. Eles tanto só pensavam neles naquele momento, que
mesmo pensando que Jesus estivesse entre os companheiros de viajem (vs 44),
eles não foram lá verificar, e só fizeram isso depois de viajarem cerca de 40
km. (caminho de um dia). Não que Jesus não fosse importante, mas ao que
parece o que reclamava a atenção deles naquela hora, era justamente toda a
organização da viajem, tudo o que estava por fazer. Tanto é que quando
regressam a Jerusalém eles estavam tão aflitos que invertem os papéis e
perguntam a Jesus: Filho, porque fizeste assim conosco? “Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados; e sua mãe lhe disse:
Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua
procura. (Lc 2.48). Com a idade que tinha Jesus poderia até mesmo pegar uma
carona na caravana de alguém para regressar a nazaré, mas espera aí, Jesus
estava sob a tutela de seus pais que eram seus responsáveis diretos, por isso
não podemos inverter os papéis.
Pense irmãos, muitas vezes só pensamos em nós, é o nosso Eu
centralizado. John Stott disse: “que a ordem de Deus é que primeiro
amemos ao Senhor, depois ao nosso próximo, e por último a nós mesmos. Segundo
ele a reversão desta ordem é pecado”.
Não que tenhamos que nos descuidar
de nós mesmos, mas quando idolatramos o nosso Eu de acordo com as nossas
conveniências e necessidades, me parece que o outro fica em segundo lugar, e
Deus em algum lugar distante. Você quer ver um exemplo parecido com isso:
Na prisão José interpreta o sonho
do copeiro-chefe dizendo a ele, que ele seria restituído no cargo e aí lhe faz
um pedido: “Porém lembra-te de mim,
quando tudo te correr bem; e rogo-te que sejas bondoso para comigo, e faças
menção de mim a Faraó, e me faças sair desta casa”(Gn 40.14). Porém quando
o copeiro-chefe é restituído ele não se lembra de José “O copeiro-chefe, todavia, não se lembrou de José, porém dele se
esqueceu” (Gn 40.23).
Percebeu como ele esqueceu com
tanta facilidade de alguém que o ajudou, sabe porque? Porque o Eu estava na
frente de qualquer coisa, seu egocentrismo apagou completamente da sua memória
qualquer pessoa ou fato. Enquanto ele estava sofrendo na prisão procurou José,
mas depois que conseguiu o que queria esqueceu. (isso é
uma lição pra nós).
Como Jesus é diferente de nós, ele
resolveu ficar em Jerusalém porque entendia que precisava servir a outros,
cuidando assim das coisas do Pai, mesmo que fosse por três dias “Ele lhes respondeu: Por que me
procuráveis? Não sabíeis que me cumpria (tratar dos negócios do meu pai) estar
na casa de meu Pai? Não compreenderam, porém, as palavras que lhes dissera. (Lc
2.49-50).
Jesus não se idolatrava, não
trocava suas prioridades, não se deixava influenciar pelas circunstâncias e as
adversidades. Era um líder servidor com uma bacia e uma toalha pronta para
enxugar os pés de quem quer que fosse por amor. Jesus nunca deixou de valorizar
o que era mais importante, até mesmo pra sua família foi capaz de dizer: “Vocês
não sabiam que eu precisava tratar das coisas do meu Pai? Que isso é mais
importante pra mim do que vocês?
Deixemos as coisas que são
secundárias e vamos nos focar naquilo que realmente importa, naquilo a bíblia
ensina que devemos nos importar. Que
deixemos o imediatismo, a busca do ter ao invés do ser, e que coloquemos o
nosso Eu no lugar devido e não no trono de adoração.
O que realmente importa é Deus,
sua Palavra, sua graça, seu Reino, sua igreja, seu serviço, seu discipulado,
seu ensinamento, sua verdade, seus conselhos. Acima de Tudo Deus é mais
importante, o próximo está ao lado, e nós no lugar devido.
Pr.
Flavio Muniz