(Lc
1.5-23; 57-66) - O
texto nos diz que este casal não possuía filhos, pois além de Isabel ser
estéril, eles já possuíam idade avançada. Zacarias e Isabel possuíam
credenciais religiosas impecáveis (Lc 1.6). E para Zacarias que sendo sacerdote e
ainda casado com uma mulher que possuía linhagem sacerdotal, era de fato , dupla honra. Naquela época existiam cerca de 20000 sacerdotes que
ministravam ao Senhor divididos em 24 turnos, por isso quando um sacerdote era
escolhido por sorte para queimar incenso no santo dos santos, era um privilégio
tremendo, uma alegria incomum e uma responsabilidade anunciada, já que aquele
sacerdote possivelmente nunca mais iria fazer a mesma coisa por toda sua vida.
E
no exercício do seu ofício, a bíblia diz que surpreendentemente um anjo lhe
aparece lhe fazendo promessas de um filho da parte de Deus, e a
reação de Zacarias não podia ser outra, ele ficou agitado e um temor ainda mais
profundo se apoderou dele (vs 11-13). O anjo chega a descrever o efeito do
ministério de João (vs 14), suas qualificações para exercê-lo (vs 15), e a
natureza desse ministério (vs 16-17). Porém apesar disso tudo, a reação de
Zacarias não foi a de um crente, e sim de um incrédulo, a reação de Zacarias
não foi de fé e sim de dúvida (vs 18). Ora, se ele era sacerdote e orava com
sua esposa por uma criança, por que não acreditar que aquele momento chegou? O
anjo precisou se identificar dizendo quem era ele, de onde viera e o que veio
fazer, para que ele pelo menos pudesse acreditar. (vs 19).
Zacarias
duvidou de uma promessa de Deus, e o que aconteceu com ele, pode acontecer com
todos nós, somos sacerdotes do Senhor (1Pe 2.9) – “sacerdócio real”, temos
sempre o privilégio de ir ao santo dos santos oferecer a Deus nossos incensos
em oração, louvor e adoração, mas muitas vezes duvidamos do que Deus pode
fazer. Zacarias ficou mudo até a promessa se cumprir devido a sua incredulidade
(vs 20), o povo estava admirado de que Zacarias se demorasse dentro do
santuário. Ele ao sair deveria proferir a benção sacerdotal como de costume (O Senhor te abençoe e te guarde; O Senhor
faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; O Senhor
sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz"), no entanto ele saiu mudo
e o povo entendeu que ele teve uma visão (vs 21-22). Só que não foi só isso,
ele teve uma visão do anjo, e saiu mudo porque não creu na visão, na promessa
de Deus.
Apesar
do anjo ter dito que ele ficaria mudo porque não acreditou na promessa da
Palavra vinda da parte de Deus. Eu quero acreditar que Zacarias chegou ao ponto
da incredulidade porque duvidou primeiro no seu coração. E existe uma clara
diferença entre incredulidade e dúvida:
A
incredulidade é uma recusa deliberada a crer. Nasce do desejo de rejeitar o que é
verdadeiro sobre Deus por motivo de conveniência. É olhar para Deus, e não se
agradar do que se vê e se recusar a confiar. Há volição (vontade) na
incredulidade. Nem todo o que crê em Deus ama o que sabe ser verdadeiro
sobre Ele. Uma coisa é saber que Deus existe e dizer que crê Nele. Outra coisa
é crer em Deus amando sua verdade. É por isso que todo ser humano precisa
de uma obra do Espírito Santo no coração para que suas afeições sejam afetadas a
tal ponto que o leve a amar o que passou, a saber, ser verdadeiro sobre Deus.
Já
a dúvida é uma fraqueza humana, é uma doença da fé. A
dúvida nasce quando somos exigidos a crer na Palavra de Deus, por isso podemos
dizer que dúvida, é a fé em algo que representa o exato oposto do que Deus
ensina em sua Palavra. E grave isto, sempre existirá fé na dúvida, pois ela
sempre implica na crença em alguma coisa. É por isso que é essencial para
nós nos conscientizarmos que a dúvida geralmente se aproveita das
circunstâncias da vida para prevalecer contra nós. Pense nisso: A dúvida faz perguntas; a incredulidade se recusa a
ouvir respostas. A dúvida são os trechos difíceis numa estrada boa; a
incredulidade é um beco sem saída, é a recusa em continuar viajando.
E
apesar da dúvida fazer parte de um processo de questionamentos que muitas vezes
nos leva a fé, chegamos à conclusão que duvidar da dúvida o quanto antes é
essencial na vida cristã para que não cheguemos ao estágio da incredulidade.
Por
isso nessa mensagem eu quero tentar entender junto com você porque duvidamos de
Deus nos momentos cruciais de nossa vida?
1
- Duvidamos quando temos um conhecimento parcial de Deus
Um
conhecimento parcial de Deus nos leva a cultivar uma fé parcial, ou seja, uma
fé que admite dúvidas. A reação de Zacarias diante da notícia não deveria ter sido
de incredulidade, mas de fé através da busca de informação. Zacarias ao saber da notícia a respeito de
João, perguntou: “Como saberei isto?”, ou seja, como entender isso? Encontramos
no sacerdote um coração duvidoso, um raciocínio lógico e um espírito desanimador.
A dúvida bloqueia um ato de fé e só pode ser eliminada pelo crescimento
espiritual. Mas, Maria teve uma atitude contrária
ao ser visitada pelo mesmo anjo: primeiro ela fica admirada, depois ela começa
a pensar no significado da notícia, logo após ela pergunta: “como será isto?
(Lc 1.34), ou seja, ela se interessa em saber como aconteceria o fato, ela
busca a informação. Depois de ser informada, ela concorda em ser cúmplice de
Deus naquela situação. “Então, disse
Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua
palavra. E o anjo se ausentou dela” (Lc 1: 38).
Zacarias parecia ter um conhecimento
parcial de Deus, porque deixou com que a dúvida virasse incredulidade diante da
promessa de Deus. Já Maria demonstrou ter um conhecimento mais profundo e
absoluto sobre Deus, por isso sua fé a levou a admitir a possibilidade do
cumprimento da promessa.
Depois de ter ouvido do anjo Gabriel
que para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas, Maria declara
com fé:
“que se cumpra em mim conforme a tua
palavra”.
Que
tipo de conhecimento você possui a respeito de Deus? Apenas o conhecimento
teórico e abstrato? Ou o conhecimento pessoal, aquele que faz com que você se
relacione com ele com uma fé que confia, espera e descansa nas suas promessas?
Á medida em que nós nos aprofundamos em
nosso relacionamento com Deus através da sua palavra, de tribulações, tentações,
provações, experiências etc, mas crescemos na fé e no conhecimento prático da
pessoa que Deus é. E isso faz com que nós produzamos um impacto em nossa fé
transformando-a em uma fé madura que confia, espera e descansa nas promessas
Dele.
A fé de Zacarias e de Maria eram no
mesmo Deus, na mesma Palavra desse Deus. No entanto, a diferença estava na demonstração
do conhecimento de Deus. Zacarias chegou à incredulidade pela dúvida –
demonstrando um conhecimento parcial de Deus, e Maria creu por conhecimento prático
de Deus e de sua Palavra revelada.
“O
boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel
não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Is 1.3).
“Para
que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito
de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele” (Ef 1.17).
2
- Duvidamos quando vemos apenas as circunstâncias contrárias.
A demora de Deus em responder a Isabel
e Zacarias não era porque ele era velho e ela avançada em dias, mas na verdade isso
acontecia por causa do propósito de Deus para João. Isabel e Zacarias não
veriam o menino crescer e desenvolver-se, mas Deus lhes recompensava afirmando
que ele era a resposta a oração deles e ao clamor da nação, ansiosa pela vinda
do Messias, que ele anunciaria. Aprendemos aqui, que não devemos permitir que
as circunstâncias contrárias influenciem nossa mente criando dúvidas em nossa
fé, mas precisamos procurar entender o que é que Deus tem feito por nós e para
nós. O melhor para o sacerdote seria ter deixado de lado a dúvida, e perguntasse
ao anjo: “Como se fará isso uma vez que somos de idade avançada?
“Porque
em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te
no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim
será com ele. (Mc 11.23)
Ouça queridos: O silêncio de Deus
muitas vezes está diretamente relacionado ao Seu propósito. Assim
como Isabel e Zacarias não imaginavam que seriam os pais do precursor do
Messias, muitas vezes não sabemos o que Deus quer fazer por nós lá na frente.
Devemos aprender a esperar e a descansar no Senhor mesmo nos momentos mais
difíceis e conflitantes. Mesmo nos momentos em que Deus se cala. Deixe de
enxergar apenas os impossíveis, os obstáculos e as dificuldades, quando Deus se
cala, pois é justamente isso que está fazendo a sua fé diminuir e sua dúvida
aumentar. Passe a crer que Deus é soberano, que ele está agindo a seu favor e está
ativo na sua história. Passe a enxergar as promessas de Deus se concretizando nesses
momentos turbulentos e isso aumentará a sua fé e renovará a sua esperança Nele.
3
- Duvidamos quando preferimos agir e dar solução a uma situação específica sem
esperar a orientação e a ação divina.
“Então,
perguntou Zacarias ao anjo: Como saberei isto? Pois eu sou velho, e minha
mulher, avançada em dias”. (Lc 1.18)
Na resposta de Zacarias ao anjo, vemos
que ele estava preocupado com aquela situação já que ele era velho e sua mulher
já nem menstruava mais. Parece-nos que em suas palavras ele estava pensando
assim: “meu Deus entender isso é muito
complicado, já somos velhos e isto dificilmente vai acontecer, será que preciso
fazer alguma coisa?”. Deduzimos isso, pois o anjo posteriormente disse a
ele: não acreditastes nas minhas
palavras, as quais há seu tempo se cumprirão.
Irmãos, nós não gostamos de esperar a
orientação e o agir de Deus enquanto estamos em oração por nossas adversidades.
Queremos sempre dar uma força pra Deus. Quando tomamos a frente de Deus para pensar
em fazer aquilo que Deus prometeu que iria fazer, na verdade estamos duvidando
Dele. Estamos relegando o Deus de promessas a um mero expectador das nossas
ações.
Muitas vezes também, gostamos de nos
mobilizar e achar que certas notícias que chegaram até nós foram de Deus,
quando na verdade é a nossa ansiedade em resolver as coisas que nos levaram a
conclusões erradas e a atitudes precipitadas. Ora, se Deus não disse nada e eu
tomo alguma atitude, isto demonstra a força da minha ansiedade traduzida em impaciência
e dúvida.
Obs:
Lembra de Saul, ele não esperou o profeta Samuel para o sacrifício em Gilgal, e
por sua precipitação Deus o retirou do trono. Saul com sua atitude banhada pela
ansiedade e impaciência, duvidou de Deus e de sua Palavra. Nós não
podemos desprezar a orientação e o agir de Deus enquanto estamos esperando Deus
nos responder em oração. Nós não podemos tomar iniciativas impacientes enquanto
Deus ainda não se levantou do seu trono e veio até nós, entende? Quando fazemos
isso estamos dizendo a Deus: Deixa que eu faço porque o Senhor está demorando
muito. E nisso demonstramos dúvidas.
A
dúvida enfraquece a fé, impede nosso crescimento espiritual e diminui a
esperança. Mas, somente Deus conhece o futuro e tem o melhor para os seus
filhos. A dúvida não nos deixa aprender a viver contente em toda e qualquer
situação, na certeza de que Deus está no controle. A dúvida nos impede que peçamos
a Deus que nos ajude a crer e a descansar em suas promessas.
A
promessa de Deus se cumpriu (Lc 1.57-66), Zacarias voltou a falar e Deus
continua sendo o mesmo (Is 14.24,27) aquele que fala e cumpre, aquele que
determina e efetua.
“E
compadecei-vos de alguns que estão na dúvida” (Jd 1.22)
Você possui um conhecimento parcial de
Deus, somente enxerga as circunstâncias contrárias e não costuma esperar em
Deus tomando suas próprias decisões, então essa palavra é pra você. Deus está
se compadecendo de você e quer que você deixe de ser um duvidoso para ser um
crente de verdade em Jesus Cristo.
Samuel
Coleridge: Nunca
tenha medo da dúvida se você tem a disposição para acreditar.
Não
duvide, somente creia!
Pr. Flavio Muniz