“Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho”. (2 Jo 1.9).
Por mais que queiramos ser modernos, diferentes dos cristãos de alguns anos atrás, Deus é o mesmo. Por mais que nossas práticas de culto sejam menos formais do que há alguns anos, Deus é o mesmo. Por mais que nós digamos aceitar este ou aquele ponto como sendo o nosso ponto de vista mais adequado, Deus é o mesmo. Por isso, aquilo que ele revelou e requer de nós continua exatamente o mesmo. Embora o mundo moderno negue a vontade soberana de Deus (e nós, muitas vezes, estamos mais dispostos a ouvir o mundo do que ouvir a Deus) a doutrina cristã é a mesma.
Podemos dizer que a igreja do Novo Testamento cresceu porque deu amplo destaque ao ensino doutrinário; foi assim que ela conseguiu ter um crescimento constante. Isto não quer dizer que a igreja não sofresse oposição, nem que não enfrentasse falsos ensinos e heresias, ao contrário, os cristãos foram martirizados por causa de suas profundas convicções doutrinárias; não abriram mão delas. Ninguém arrisca sua vida por algo em que não acredita fortemente. Os cristãos não negaram Cristo nem sua doutrina; para eles, os fundamentos de sua fé eram nítidos. O fato é que a igreja desde a sua origem era estruturada na Palavra, era capaz de divulgar e defender suas doutrinas básicas. Ela estava edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”. (Ef. 2.20), como diz Paulo.
Os apóstolos transmitiram os ensinamentos de Jesus com fidelidade:
“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei” (1 Co. 11.23a -A R A );
“O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo”. (1 Jo 1.1-2)
O que é doutrina bíblica?
Ao contrário da filosofia, a doutrina cristã não se perde em especulações. Se por um lado, conduz-nos a conhecer mais intimamente a Deus; por outro, constrange-nos a ter uma vida santa e irrepreensível. Andrew Bonar, ao destacar-lhe a importância em nosso cotidiano, foi enfático: “Doutrina é coisa prática, visto que desperta o coração”.
A palavra doutrina significa “ensino ou instrução”. No caso é bíblica, porque a sua base é a Bíblia.
Interessante: A palavra doutrina se origina do grego “didaque”, significando ensino ou instrução; seu sinônimo comum é didaskalia. Os dois termos expressam tanto o ato de ensino (sentido ativo) como aquilo quer é ensinado (sentido passivo). Didaque aparece cerca de trinta vezes no Novo Testamento, já didaskalia cerca de dezesseis vezes nas epístolas pastorais; cerca de vinte e duas vezes em todo o Novo Testamento.
Quando falamos em doutrina, estamos nos referindo aquelas que são expostas na Bíblia e que representam o alicerce, o sustentáculo de nossa fé. Se descuidarmos e desprezarmos as doutrinas, perderemos a nossa identidade espiritual como servos de Deus, como seguidores de Cristo, como discípulos de Cristo.
A definição de doutrina
"conjunto de princípios básicos em que se fundamenta um sistema religioso, filosófico ou político; rudimento da fé cristã" (dicionários). A doutrina é um conjunto de princípios que, tendo como base as Sagradas Escrituras, orienta o nosso relacionamento com Deus, com a Igreja e com os nossos semelhantes. Ela pode ser definida, ainda, como ensino da Bíblia. Este, contudo, tem de ser persistente, sistemático e ordenado, induzindo os santos a se inteirarem de todo o conselho de Deus (At 20.27).
Os objetivos da doutrina
O principal objetivo da doutrina bíblica é aprofundar o nosso conhecimento de Deus (Os 6.3). Se não o conhecermos experimental e redentivamente, como haveremos de colocar-nos a seu serviço? (1 Sm 3.7). O Israel do Antigo Testamento caiu na apostasia por não conhecer a Jeová. Através de Oséias, o Senhor amoroso, lamenta: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento.” (Os 4.6).
A doutrina bíblica também visa à perfeição moral e espiritual do ser humano. Escrevendo ao jovem pastor Timóteo, o apóstolo Paulo é mais do que claro; é incisivo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente habilitado para toda a boa obra” (2 Tm 3.17).
As doutrinas são uma exposição das verdades centrais ou fundamentais de nossa fé, portanto devem ser estudadas de forma sistemática, para que uma vez que estiverem devidamente agrupadas, serão melhor analisadas como aparecem na Bíblia em ambos os Testamentos.
Saber em que se crê é fundamental para a existência de uma vida cristã frutífera. Assim se expressou o apóstolo Paulo: “Eu sei em quem tenho crido” (2 Tm 1.12). Ele tinha uma crença firme, razão pela qual foi capaz de suportar provações, tribulações, tentações e etc.
A necessidade da doutrina
Há cristãos que, menosprezando a doutrina bíblica, alegam: “O importante não é a teoria; e, sim: a prática”. Entretanto, quem disse que a doutrina bíblica é meramente teórica? Ela é a vontade de Deus. E, como tal, deve ser posta em prática. Aos filhos de Israel, ordena o Senhor: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por testeiras entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas” (Dt 6.6-9).
Precisa-se conhecer a doutrina para, então praticá-la. Como podemos saber se estamos na luz, se não examinarmos nossos conceitos, nossas ações pela doutrina bíblica apresentada? “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados”. (2 Co. 13.5). Quando se expõe algo, nossa base não pode ser o julgamento próprio, mas, por meio da verdade, apresentada pela Bíblia. Tendo conhecimento da doutrina, devemos praticá-la: “Ora, se sabeis estas cousas, bem-aventurados sois se as praticardes“ (Jo. 13.17); “Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Rm . 3.13- ARA). Ao terminar o “Sermão da Montanha”, Jesus esclarece o que Ele esperava daqueles que ouviram Seus extraordinários ensinos: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha” (Mt 7.24). A conclusão é clara: primeiramente necessita-se ouvir o ensino; depois praticá-lo. Quanto àqueles que não praticam seus ensinos, Jesus foi claro ao afirmar que edificam sua casa sobre a areia, e por isso “será grande a sua ruína (Mt 7.27).
A reação dos ouvintes em razão do ensino do Mestre: “A multidão se admirou da sua doutrina, porquanto os ensinava com autoridade e não como os escribas” (Mt. 7.28-29).
Vejamos por que a doutrina bíblica é necessária:
1. A doutrina bíblica nos proporciona a salvação em Cristo. Paulo instrui ao seu jovem filho na fé: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4.16).
2. A doutrina bíblica nos santifica. Em sua oração sacerdotal, Cristo se refere ao poder santificador da Palavra de Deus desta forma: “Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (Jo 17.14-17).
3. A doutrina bíblica nos torna sábios. Timóteo, instruído por sua mãe, Eunice, e por sua avó, Lóide, se tornou num dos melhores pastores do Novo Testamento. Ainda jovem, veio ele a ser considerado um sábio, conforme lhe escreve Paulo: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.” (2 Tm 3.15).
A doutrina bíblica é imprescindível para o nosso crescimento na vida cristã. Sua necessidade pode ser constatada tanto coletiva quanto individualmente.
William S. Plumer analisa a eficácia da doutrina bíblica na vida cristã: “Doutrinas fracas não são páreo para tentações fortes”.
Que Deus te abençoe rica e abundantemente,
Pr. Flavio Muniz