sábado, 18 de janeiro de 2014

Quer ser sábio? Pratique a Palavra

“Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma. Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar. Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.” (Tg 1.21-27)


Tiago escreve sua epístola possivelmente aos primeiros cristãos judeus que foram perseguidos em Jerusalém e tiveram que se espalhar. Seu propósito era instruí-los e encorajá-los para um viver diário na presença de Cristo diante das complexidades e perplexidades da vida. Tiago pode ser chamado de o manual prático da religião cristã, ou quem sabe um guia prático para a vida e conduta cristã.  É o livro de Provérbios do Novo Testemento. Tiago é uma epístola que trata da fé em ação, do fazer para acontecer no futuro, da prática da Palavra como confissão de fé, da prática de obras para demonstrar a fé. É bom que notemos a ênfase que Tiago dá a Palavra de Deus para moldar e corrigir a vida dos seguidores de Jesus Cristo. E dentro desta ênfase o tema “sabedoria” quanto dom que procede de Deus, ocupa um lugar proeminente em sua epístola. Para Tiago é necessário que a sabedoria permeie nossas ações para que possamos praticar um cristianismo vivo, para que a fé tenha obras, para que a conduta cristã seja ética, e para que a Palavra de Deus exerça um testemunho fiel. Essa sabedoria que Tiago descreve, não vem de livros, não vem dos acadêmicos, não vem dos intelectuais deste tempo, essa sabedoria vem de uma única fonte, vem de Deus! “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida”. (Tg 1.5).

A sabedoria que vem de Deus é aquela capacidade que temos de julgar corretamente, e agir prudentemente. Por isso, uma das preocupações da sabedoria é que se viva o que se sabe. O tema central do livro de provérbios é “sabedoria para um viver justo, para uma vida correta”, e seu propósito é “Dar sabedoria e entendimento quanto ao comportamento sábio”. Isso, porque a sabedoria bíblica não é simplesmente teórica. Sendo assim, pode-se declarar que, biblicamente falando, a pessoa sábia não é a que sabe, mas sim a que vive. Essa é a sabedoria divina que vem do alto, do Pai das luzes.

Como ser sábio? É difícil ser sábio? Porque é difícil ser sábio? Porque é difícil agir com sabedoria. E porque é difícil agir com sabedoria? Porque precisamos aliar o que sabemos ao que praticamos. A sabedoria divina não é um compêndio teológico vazio de significado, ela é na verdade um exercício constante da fé que nos é revelada na Palavra de Deus. Portanto, firmados neste texto de Tiago que nos ensina como ser sábios, podemos dizer que:

SABER E NÃO PRATICAR É ENGANAR A SI MESMO (Tg 1.21-22; 26-27)

Tiago recomenda enfaticamente que o que se sabe seja vivido. Quem conhece, sabe de cor, mas não vive, engana a si mesmo. Pode até enganar outros passando a impressão de ser uma pessoa piedosa e santa, mas na verdade, vai enganar apenas a si mesmo. A Deus jamais enganará. Lembre-se que os homens veem o exterior, a aparência, a máscara, mas o Senhor vê o coração. 

Tiago diz: Vocês devem se despojar de toda impureza, acúmulo de maldade e acolherem com mansidão (humildade) a Palavra em vós implantada porque ela é poderosa para salvar a alma.

 Tiago diz, “livrem-se”, em que no grego aparece como “apothemenoi” e que significa “pôr para fora, despojar-se”, é uma metáfora que indica o ato de tirar roupas. O cristão deve se livrar de tudo aquilo que impede o crescimento espiritual e uma vida mais comprometida com Deus. Por isso Tiago traz a afirmação: “livrem-se de toda impureza moral e da maldade que prevalece”. Impureza aqui vem do grego “ryparia” que significa “sujeira, imundícia”. A palavra era usada para descrever roupas sujas, bem como uma conduta moral impura e vulgar. E maldade significa mal, malícia. Esta palavra também pode ser traduzida como “iniqüidade”. Desta forma, impureza e maldade representam uma postura indigna para aquele que se chama cristão.

Segundo Tiago, a atitude sábia e correta é aceitar “humildemente a palavra que em nós foi implantada”, ou seja, acolher os preceitos divinos, vivendo sabiamente por eles, indicando que o Evangelho de Cristo passa a dominar o nosso ser por inteiro, formando em nós uma nova perspectiva de vida. Aí então esta Palavra implantada nos leva a desfrutar da obra da salvação em toda sua plenitude.

Tiago também diz que muitos se consideram religiosos, mas por não praticarem aspectos importantes dos preceitos divinos enganam o próprio coração abraçando uma religião vã (vazia, sem sentido, ineficaz). (Tg 1.26-27).

Veja que Tiago trás exemplos práticos para exercermos a verdadeira religião, ou a verdadeira piedade diante de Deus: Controlem a língua, tenham compaixão pelos necessitados e vivam uma vida santa. Para Tiago o Cristianismo é essencialmente vida! vida com Deus que se reflete no relacionamento com os homens. E a vida cristã aqui manifesta-se nos aspectos citados. Expressem sua vida cristã desta forma (controlem a língua, tenham compaixão dos necessitados e vivam uma vida santa).  A fé que você tem é a fé que você deve demonstrar!

Irmãos nós precisamos entender que nós somos a Bíblia que o mundo lê e interpreta. Você tem guardado seus lábios, tem procurado ouvir mais e falar pouco, e neste pouco falar somente palavras temperadas com sal, dando ênfase somente no que edifica? Quantos irmãos temos visitado para os ajudar em suas dificuldades e tribulações, sejam eles órfãos, viúvas, solteiros, casados, jovens, idosos? Você tem hoje uma vida santa?

Quem sabe destas coisas e não pratica engana-se a si mesmo. Jesus nos advertiu com referência a pessoas que tem aparência de santidade, mas que na verdade não são o que aparentam ser, e lhes preparou um juízo quando se der a sua volta: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade. (Mt 7.21-23)

SABER E NÃO PRATICAR É UMA ATITUDE PERIGOSA (Tg 1.23-24)

Tiago usa uma metáfora curiosa e interessante para ilustrar o perigo de saber a Palavra de Deus, mas não obedecê-la. Fazendo uso desta ilustração, ele diz que quem age assim é igual a uma pessoa que contempla sua própria imagem no espelho, mas depois de se admirar e sair, logo se esquece de como era sua aparência.

Na verdade aqui Tiago nos mostra a Palavra como Espelho, e todos nós sabemos da utilidade de um espelho. Ele justamente nos mostra como estamos. Assim é a Palavra de Deus. Quando observamos nossa vida e a refletimos no espelho da Palavra podemos saber o que somos e como estamos.

Sabemos que um espelho comum possui limitações por si só. Por exemplo: ele não consegue mudar nossa fisionomia como muitos de nós gostaríamos. Eu me sentiria feliz se olhando para o meu espelho eu estivesse um pouco mais magro, sem barriga, sem marcas no rosto, etc. Porém, o espelho é limitado e simplesmente reflete o que sou ali. Entenda queridos, a simples leitura da bíblia não me torna sábio ou transforma minha vida de repente num santo de Deus, mas sim por muitas vezes me confrontará e me mostrará minhas deficiências, imperfeições e tendências que preciso corrigir. 

O biblista Luís Alonso Schokel afirma sobre esse texto: “Aqui é um personagem que se olha no espelho para ver como está sujo e despenteado, e quando sai se esquece de arrumar-se. Pouco lhe valeu olhar-se no espelho”. Será que nós ao nos confrontarmos no espelho da Palavra e vermos que estamos sujos e despenteados, e ao sairmos estamos nos arrumando como deveríamos? O que adianta saber e não viver? De que vale conhecer e não obedecer. “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Tg 4.17).

Entenda queridos o mero ouvinte da Palavra vê as falhas por corrigir, mas não se incomoda e as esquece. Esse não é o procedimento adequado, e se torna perigoso a medida que posso me achar um santo, um piedoso, um cristão fiel e dedicado e não ser. Reflita nisso: O conhecimento que temos de Deus e de sua santidade deve levar-nos também a santidade. Deus não espera que sejamos enciclopédias bíblicas ambulantes, mas santos. Sem medo de errar eu posso lhe afirmar que a maior necessidade da igreja de Cristo em nossos dias é de “santos”.
E não santos como meros separados para Deus, e sim “santos” como cristãos que levam uma vida tão íntima de Deus que impressionam o mundo com o seu caráter e não com o seu discurso.

SABER E PRATICAR É ALGO ABENÇOADOR (Tg 1.25)

Ao continuar seu aula sobre como ser sábio associado à prática da Palavra, Tiago finalmente chega a uma conclusão inevitável de que a benção divina é prometida aos que vivem o que sabem que devem viver. (Tg 1.25). Veja que é prometida uma bem-aventurança para todos aqueles são obedientes a Palavra em tudo o que realizarem. Veja! Felizes são aqueles que consideram atentamente, perseveram e praticam produtivamente a Palavra. Esse considerar atentamente nos traz a idéia de uma pessoa debruçada sobre a Palavra de Deus, atenta e que verifica cuidadosamente os ensinamentos da Escritura, ou seja, é um verdadeiro examinador. Outra coisa que notamos aqui é um contraste claro entre o “esquecer” do verso 24 e o “perseverar” do verso 25. E o que diferencia o ouvinte do praticante? A obediência.

Tiago chama o Evangelho de lei perfeita, de lei da liberdade. A lei da liberdade é a lei do Espírito, em que somos dirigidos por Ele de forma a cumprimos a vontade de Deus em nossa vida. Ao contrário da crença popular, que imagina a “lei” como um mecanismo que tira a liberdade das pessoas as escravizando por meio de regrinhas. A lei de Deus é apresentada aqui como sendo exatamente o contrário – a lei é a fonte da verdadeira liberdade! E essa liberdade é vivida pelos que praticam a Palavra de Deus em suas vidas. Paulo nos diz em Gálatas: Foi para liberdade que Cristo nos libertou. Obedecer a Palavra é encontrar o caminho da liberdade do pecado e caminhar debaixo das bênçãos de Deus.

Na conclusão do sermão do monte (Mt 7.24-27), Jesus declarou que aquele que ouve e pratica suas palavras é bem sucedido, ou seja, sua vida com Deus e suas obras resistirão as intempéries da vida. Isso é um sinal visível da benção de Deus sobre aquele que conhece e pratica a Palavra de Deus.

Certa vez Jesus proferiu uma bem-aventurança para os que obedecem a Palavra. “Ora, aconteceu que, ao dizer Jesus estas palavras, uma mulher, que estava entre a multidão, exclamou e disse-lhe: Bem-aventurada aquela que te concebeu, e os seios que te amamentaram! Ele, porém, respondeu: Antes, bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam! (Lc 11.27-28). A primeira semente da mariolatria que temos registro, está aqui. Porém, pelo que interpretamos na resposta de Jesus, entendemos que existe um valor muito maior em ouvirmos e obedecermos a Palavra do que propriamente sabermos que foi Maria que trouxe Jesus ao mundo.

É oportuno lembrar que nenhum de nós jamais será capaz de cumprir o todo da Palavra de Deus. Somos limitados e imperfeitos. No entanto, admitir nossa imperfeição nos libertará da escravidão do perfeccionismo. Porém, isso não deve servir de desculpa para uma vida relaxada e descompromissada com a práxis cristã. Continuamos dependentes do favor divino que recebemos sem merecer, dependentes da graça de Deus.

“O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência”. (Pv 9.10)

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e este temor nos impulsiona a praticarmos a Palavra. Quer ser sábio? Então pratique a Palavra de Deus.

Bendito seja o Evangelho!

Pr. Flavio Muniz














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Palavra de Nova Vida - Pr. Flavio Muniz

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